sexta-feira, 3 de julho de 2015

Um companheiro divino!

Em um momento, num determinado momento, o silêncio nos visita. E entra, e se instala, e faz morada. Quando chega, arranca, sem gentilezas, seus "dons", sua perspicácia, sua eloquência e te condena ao nada, ao vazio, ao branco.
Não há palavras e nem frases de efeitos capazes de traduzir esse momento. O silêncio exige silêncio. De repente não se quer mais falar, explicar ou racionalizar.  Aceita-se o novo visitante e faz companhia a ele. Não se sabe o tempo de sua permanência, nem tampouco sua missão.
Acompanhado dele o pensamento desacelera e a língua perde seu movimento. No entanto, a visão ganha lentes de aumento e o ouvido uma sagacidade incrível. Isso, pra não dizer que sentidos adormecidos despertam e te revelam coisas surpreendes. Nessa altura, eu poderia afirmar que o silêncio é um mago que opera magias.



Esse visitante andou em meus terrenos. Confesso que no início me senti um tanto desorientada. Sim, para uma usuária compulsiva, como eu,  do aparelho fonador e de  recursos possíveis de comunicação, silenciar é quase como cometer um crime, ia contra os meus valores. Mas, com ele eu não tive querer, como diz minha amiga Anita:  "aceita que doí menos." Contudo, eu pensava: Seria  fogo de palha aquela vertente literária que me incendiava? Onde estava a vontade de contar, de transformar em letras, frases, textos, poesias e crônicas os meus sentimentos, devaneios e tudo mais? Foi só um lance?
(...)

E assim fiquei desde o mês de abril, sem compor, sem vir aqui no blog, sem redigir meus e-mails e até o meu diário pessoal sentiu falta da ponta da minha caneta.
Mas sabe,  ele me trouxe algo inédito!
Ele me trouxe a grande sensação de pertencer a mim mesma.

Sempre tive uma louca necessidade de compartilhar, de trocar, de tocar, de acessar o outro. Tudo que me acontecia, desde um leve toque da inspiração até acontecimentos cotidianos, eu sentia necessidade de utilizar isso como uma ponte para algo que eu não entendia muito bem o que era. Uma vontade de gritar pro mundo tantas coisas, tantas ideias, tanto tudo, que sei lá... Fui intensa, ousada, inconsequente, doida, banal. Fui outras coisas também como, insistente, idealizadora, ativista, surpreendente. Porém, não tinha experimentado ser silenciosa. E quando o fui, me senti só, mas completa.

Com ele de companheiro, o silêncio,  passei a perceber o quanto medo temos do espaço em branco. Num mundo onde a regra é interagir e se manter conectado o silêncio é vilão, bicho papão que traz acanhamentos e constrangimentos.
Não fomos ensinados a silenciar, apenas falar. Não fomos ensinados a entender e respeitar o silêncio. Ignora-lo foi a ordem! Não conseguimos guardar segredos e nem tão pouco viver mistérios. Temos que ver para crer, materializar o máximo que for possível para guardar, recordar e reviver. Até porque, viver é pouco num mundo de replay.
Penso que o triste disso é o descrédito que temos de nós mesmos. Nos sentimos tão mortos que precisamos evidenciar a todo custo que estamos vivos, e por isso, registramos tudo. Gravamos nossas conversas, digitalizamos nossas imagens, nossos passeios,  até o jantar! Pois, incrivelmente fotografar parece guardar o sabor alimento. Tudo precisa ir para a memória infindável da tecnologia para atestar e certificar que: EU VIVI!.
A música do Roberto Carlos ficou ultrapassada, agora não é mais "se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi" e sim "se registrei e publiquei, isso atesta que eu vivi"
Veja a contradição, nos conectamos com o mundo e perdemos o sinal de nós.

Não estou aqui fazendo apologia ao isolamento, ao voto do silêncio ou coisa assim... Apenas, utilizando-se de sua  face oposta: a expressividade, para disseminar a sua virtude.
A virtude do silêncio é nos devolver o presente, a vida, a existência.
***Preciso contextualizar que existem pessoas que utilizam do silêncio para ferir o seu próximo. O silêncio é sagrado e não profano. Se existe uma intencionalidade mascarada por traz do silêncio, cuidado!


Dado todo o contexto, afirmo que agora não quero mais viver sem ter o meu estimado companheiro. Ele me possibilitou me libertar das ânsias do ego, atingir uma energia "não pessoal". Essa energia, por sua vez,  me possibilitou sentir-me singular, totalizada de meu ser.

Sim, ainda continuarei por aqui e pelos e-mails do meus caríssimos dissertando pensamentos, devaneios e reflexões, mas já não estarei só... E sim, acompanhada de minha intrínseca companhia.
Parece papo de gente  louca né? Pois é, eu sou! O meu bom amigo silêncio me revelou isso.

Aos que não experimentaram a mágia do Sr. Silêncio, se permitam...
Guarde seus comentários por um dia, por uma semana, pelo que tempo que conseguir. Guarde suas sensações e pensamentos para você somente. Reflita, utilize sua consciência e perceba-se!
Quando se utiliza do silêncio, você passa de ator para um período interessante de expectador do espetáculo que é a sua vida! 



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