domingo, 25 de outubro de 2015

AS LÁGRIMAS QUE CEIFAM A ALMA

Faz alguns dias que me preparo para esse momento, o momento de se sentar para me esvair em palavras, sentimentos e reflexões da vida. Eu sinto necessidade disso, de escrever, de compor. Mas, mais do que isso, de refazer com o coração aquilo que fiz com a razão: o caminho, a trilha, o viver!


Pois bem, a minha vida, mesmo sendo vivida de forma bastante racional, nos últimos tempos tem sido experimentada por essa outra face de mim, que a intitulei de Tereza. Agora quem vive não é somente a Suellen, é a Suellen Tereza!
Tereza é meu segundo nome. Ainda tenho mais um antes do sobrenome, Matilde. Minha mãe me deu os nomes de minhas duas avós, e com isso sou um mosaico. Trago em mim as raízes de minha ancestralidade, a história de gerações que compuseram vidas. Confesso que já odiei meus pais por isso! Fui uma daquelas crianças que nunca entendeu porque os pais tinham homenageado seus afetos atribuindo a terceiros o peso dessa homenagem. Coisa de criança!
Hoje, no auge de meus 30 anos, quando percebo-me somando e constituindo-me,  a Tereza que era só o nome de minha vó e só  um substantivo próprio do meu nome completo, passa ser a marca, a existência de um novo eu. Tereza tem essência: a de viver o lado irracional da vida.
Segundo o grande mago Google, Tereza significa "natural de Tera", onde Tera é o nome de uma ilha grega antiga que deriva do grego Ther, que significa "animal selvagem"
E a Suellen Tereza tem se aventurado por caminhos inusitados, tem rompido com o pragmático,  com o supérfluo e  experimentado a solidão de uma vida irracional.  
Nunca me senti tão realizada como tenho me sentido! Desafios, aventuras, perigos, enfrentamentos... Essa ousadia de viver o que tiver que ser sem se perguntar "por que" tem me dado cor e dor, mas acima de tudo amor!
Amor para comigo... É tanto amor, que chega vazar pelos meus olhos...
Quanto amor preso, acorrentado e submerso em meus calabouços!
Hoje, cada lágrima que se liberta e rompe as celas dos meus olhos é uma pedaço de mim que se emancipa
Não sou hipócrita em dizer que só tenho chorado de alegria, pois dores dilacerantes tem sido o maior responsável por essa libertação, mas como diz o poeta: "é ferida que doí, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer."

Contudo, mesmo diante dessa oportunidade  linda de viver, não obstante, me pego olhando para mim e me repreendendo, me exigindo sensatez e lucidez. Como se toda essa carga da Tereza fosse loucura, irresponsabilidade, estupidez.. Como se toda essa sensibilidade fosse pieguice... E aí, minhas pálpebras, como carcereiro algoz, encerra qualquer oportunidade de libertação, e vou amargando o amor...Que não raro, explode com revolta, como ódio, como desabafo!
Pobre de mim e pobre de nós! Sufocamos nossa sensibilidade em detrimento da razão, nos omitimos para não ganharmos esteriótipo de louco, piegas,  descompensado, exagerado, infantil!
Ora, precisamos ser adultos! Aqueles adultos que o aviador cita no Pequeno Príncipe: adultos que adoram números, que identificam os amigos pela idade, pela quantidade de irmãos, por quanto pesa, por onde mora, por qual empresa trabalha, por quanto ganha, por qual é a sua profissão...
Se vocês dizem a um deles: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, com grânitos nas janelas e pombos no telhado" ele não é capaz de fazer uma ideia dessa casa. É preciso dizer a ele: "Vi uma casa que custa uma fortuna!" Então ele se interessa: "Poxa, dever ser maravilhosa!" Portanto, se dissermos aos adultos: "A prova de que o pequeno príncipe existe é que era encantador, dava boas risadas e me pediu um carneiro. Quando alguém deseja ter um carneiro é a prova de que a pessoa existe", os adultos vão nos encarar com indiferença e dirão que isso é coisa de criança! Mas se dissermos: "Ele veio do planeta Asteroide B612", então acreditarão, e não vão mais nos chatear com outras perguntas. Eles são assim mesmo. Nem por isso devemos lhes querer mal. As crianças precisam ter muita paciência com os adultos. Mas, para nós, que compreendemos a vida, os números não têm tanta importância!
                                                                              O Pequeno Príncipe, capitulo 4 

Acho que não são somente as crianças  precisam ter paciência conosco, mais do que qualquer outra criatura, nós mesmos precisamos de uma grande dose de paciência e ternura para com nossa paupérrima racionalidade.



"Nós, que compreendemos a Vida!!!"
Segundo Saint - Exupery, para compreender a vida é preciso "fazer ideia"  de uma casa pela sua descrição:  "é feita de tijolos cor-de-rosa, com granitos nas janelas e pombos no telhado".
Ou seja, mais do que entender a vida é preciso imaginar! É preciso sensibilidade para entender o amor através da descrição do que é estar amando, é preciso entender a vida pela descrição de quem a vive, a dor pela descrição de quem a sofre...
Entender-se por sua própria descrição de si mesmo, por sua própria loucura, pelas lágrimas que liberta, pelos sorrisos que distribui, pelos sonhos que cultiva...
Compreendemos a vida quando deixamos de buscar o por que do choro, da tristeza, da morte, da riqueza ou da pobreza, e passamos ao simples processo de vive-la... Chorando todas as vezes que for preciso chorar, surtando todas as vezes que for preciso surtar, gritando todas as vezes que for preciso gritar, evocando o nosso lado infantil para nos salvar do frio, rígido e cruel racionalismo que insiste em nos condicionar em "adultos" desalmados.

E por isso me apodero da seguinte citação: "Os que com lágrimas semeiam com alegria ceifarão"

E assim eu sigo...
Entre racional e irracional, trilhando o meu caminho, certa de que já ceifo inúmeras alegrias, e a maior delas... Minha alma!







sexta-feira, 3 de julho de 2015

Um companheiro divino!

Em um momento, num determinado momento, o silêncio nos visita. E entra, e se instala, e faz morada. Quando chega, arranca, sem gentilezas, seus "dons", sua perspicácia, sua eloquência e te condena ao nada, ao vazio, ao branco.
Não há palavras e nem frases de efeitos capazes de traduzir esse momento. O silêncio exige silêncio. De repente não se quer mais falar, explicar ou racionalizar.  Aceita-se o novo visitante e faz companhia a ele. Não se sabe o tempo de sua permanência, nem tampouco sua missão.
Acompanhado dele o pensamento desacelera e a língua perde seu movimento. No entanto, a visão ganha lentes de aumento e o ouvido uma sagacidade incrível. Isso, pra não dizer que sentidos adormecidos despertam e te revelam coisas surpreendes. Nessa altura, eu poderia afirmar que o silêncio é um mago que opera magias.



Esse visitante andou em meus terrenos. Confesso que no início me senti um tanto desorientada. Sim, para uma usuária compulsiva, como eu,  do aparelho fonador e de  recursos possíveis de comunicação, silenciar é quase como cometer um crime, ia contra os meus valores. Mas, com ele eu não tive querer, como diz minha amiga Anita:  "aceita que doí menos." Contudo, eu pensava: Seria  fogo de palha aquela vertente literária que me incendiava? Onde estava a vontade de contar, de transformar em letras, frases, textos, poesias e crônicas os meus sentimentos, devaneios e tudo mais? Foi só um lance?
(...)

E assim fiquei desde o mês de abril, sem compor, sem vir aqui no blog, sem redigir meus e-mails e até o meu diário pessoal sentiu falta da ponta da minha caneta.
Mas sabe,  ele me trouxe algo inédito!
Ele me trouxe a grande sensação de pertencer a mim mesma.

Sempre tive uma louca necessidade de compartilhar, de trocar, de tocar, de acessar o outro. Tudo que me acontecia, desde um leve toque da inspiração até acontecimentos cotidianos, eu sentia necessidade de utilizar isso como uma ponte para algo que eu não entendia muito bem o que era. Uma vontade de gritar pro mundo tantas coisas, tantas ideias, tanto tudo, que sei lá... Fui intensa, ousada, inconsequente, doida, banal. Fui outras coisas também como, insistente, idealizadora, ativista, surpreendente. Porém, não tinha experimentado ser silenciosa. E quando o fui, me senti só, mas completa.

Com ele de companheiro, o silêncio,  passei a perceber o quanto medo temos do espaço em branco. Num mundo onde a regra é interagir e se manter conectado o silêncio é vilão, bicho papão que traz acanhamentos e constrangimentos.
Não fomos ensinados a silenciar, apenas falar. Não fomos ensinados a entender e respeitar o silêncio. Ignora-lo foi a ordem! Não conseguimos guardar segredos e nem tão pouco viver mistérios. Temos que ver para crer, materializar o máximo que for possível para guardar, recordar e reviver. Até porque, viver é pouco num mundo de replay.
Penso que o triste disso é o descrédito que temos de nós mesmos. Nos sentimos tão mortos que precisamos evidenciar a todo custo que estamos vivos, e por isso, registramos tudo. Gravamos nossas conversas, digitalizamos nossas imagens, nossos passeios,  até o jantar! Pois, incrivelmente fotografar parece guardar o sabor alimento. Tudo precisa ir para a memória infindável da tecnologia para atestar e certificar que: EU VIVI!.
A música do Roberto Carlos ficou ultrapassada, agora não é mais "se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi" e sim "se registrei e publiquei, isso atesta que eu vivi"
Veja a contradição, nos conectamos com o mundo e perdemos o sinal de nós.

Não estou aqui fazendo apologia ao isolamento, ao voto do silêncio ou coisa assim... Apenas, utilizando-se de sua  face oposta: a expressividade, para disseminar a sua virtude.
A virtude do silêncio é nos devolver o presente, a vida, a existência.
***Preciso contextualizar que existem pessoas que utilizam do silêncio para ferir o seu próximo. O silêncio é sagrado e não profano. Se existe uma intencionalidade mascarada por traz do silêncio, cuidado!


Dado todo o contexto, afirmo que agora não quero mais viver sem ter o meu estimado companheiro. Ele me possibilitou me libertar das ânsias do ego, atingir uma energia "não pessoal". Essa energia, por sua vez,  me possibilitou sentir-me singular, totalizada de meu ser.

Sim, ainda continuarei por aqui e pelos e-mails do meus caríssimos dissertando pensamentos, devaneios e reflexões, mas já não estarei só... E sim, acompanhada de minha intrínseca companhia.
Parece papo de gente  louca né? Pois é, eu sou! O meu bom amigo silêncio me revelou isso.

Aos que não experimentaram a mágia do Sr. Silêncio, se permitam...
Guarde seus comentários por um dia, por uma semana, pelo que tempo que conseguir. Guarde suas sensações e pensamentos para você somente. Reflita, utilize sua consciência e perceba-se!
Quando se utiliza do silêncio, você passa de ator para um período interessante de expectador do espetáculo que é a sua vida! 



quinta-feira, 9 de abril de 2015

Eu e o tempo e sua marca...

"Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para goza-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também"
                                                                                                              Fernando Pessoa 

Mal sabia Fernando Pessoa que seus escritos não só entreteriam como embalariam nossas passagens... Penso que o grande barato de expor toda a possibilidade da alma numa folha recheado de letras é isso; ser relido um dia por outros, se manter vivo, ser alimento e entreter. Nossa, tenho tantos que me fartam e me ajudam nessa passagem... Quem me dera um dia ser como eles! No entanto, tenho brincado de ser poeta e escritora me permitido deixar aqui registrado minhas marcas. Nessa brincadeira já se foi 1 ano, e somando essa postagem,  já são 20 ao todo. E assim eu sonho  de ser relida por outros... Se não for, tudo bem. Só o fato da inspiração tocar-me o peito já me sinto lisonjeada. 

O interessante é que essa inspiração nem sempre é linda e sedosa e perfumada e estelar. Não raro, essa inspiração mais parece um sopro do inferno, do meu inferno interno. 
Quem já teve contato com essa assombrosa inquietude? Seria legal receber uns feedbacks.(rsrs)
Confesso, não me sinto tão louca por que ao ler alguns nomes da filosofia, literatura e psicologia percebo que eles também tinham como fiel escudeiro essa inspiração provida dos calabouços de suas almas. É verdade, na maioria deles o dia da diligência chegou bem cedo e muitas vezes de formas bastante incompreensível ao conceito de normalidade, mas foram esses personagens que desbravaram matas e campinas e fizeram caminhos pelos quais hoje andamos sem sofrer infortúnios. Eles foram intensos!!
Será que seria prepotência minha querer também desbravar matas e campinas para fazer caminhos? O meu interesse não é fazer rota de viagem pra ninguém. O meu interesse é fazer a minha rota de viagem.

Até aqui eu vim seguindo a rota que tantos caríssimos me forneceram, que a cultura me deu. Longe de ser ingrata quero apenas separar o joio do trigo, ou seja, separar o que é meu e o que é dos outros que se naturalizou em mim. Não, não quero deixar de construir meu mosaico, minha alma depende dele para alcançar a plenitude, porém estou na busca de identificar qual a minha face que recheia as tantas máscaras usadas por mim. 

" Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos"
                                                                                                                                    Álvaro de Campos


Entrar em uma nova década tem movimentado em mim muitas reflexões, algumas perdições, poucas certezas, e inúmeras lágrimas.
O que o tempo faz com a gente? Ou seria, o que fazemos com o tempo? O que o demarca verdadeiramente? Será as datas criada por nós ou as aprendizagens que ele fomenta? Ou ainda, outra coisa?

Eu vou arriscar...

Somar anos de vida é ter um vaga-lume na cabeça que passa zanzar dentro dela emitindo um pequeno fecho de luz sobre coisas que estavam em completo breu. Vejo que tem gente que odeia esses adoráveis bichinhos e de tanto despreza-los, os pobrezinhos sepultam sua missão. Eu, ao contrário, acho que até tenho exagerado na tamanha atenção que o tenho dado.
(Vaga Lume entrou em extinção e cabeças pensamentes também.)
Tem momentos que eu rogo para ele sossegar um pouquinho e digo que quero fé e calma, menos sensações confusas. Temporariamente ele me atende, mas dei corda pro danado e se sentindo em casa não pondera quase nada minhas rogativas, e assim ilumina e inferniza meus pensamentos. Graças a Deus meu coração não pensa, se pensasse já teria parado.

Somar anos de vida é viver os infernos. Por isso agora entendo da onde surgem os sábios, são criaturas que entraram no inferno e conseguiram sair. São dotados de riquíssimos conhecimentos, lembrando que são conhecimentos práticos. Quem só viveu de céu não consegue ser sábio.

Somar anos de vida é ver o mundo a cada dia com novos olhos. Já não se precisa percorrer grandes distâncias  para novas descobertas. A paisagem não muda, mas a forma de vê-la... Ah, chega ser agoniante. Nunca está lá o que vi ontem, hoje já é diferente.

Somar anos de vida é ter conhecimento de sua chaga, de sua dor, de seu tão terrível sofrimento, porém se ver obrigado a inventar sorrisos. A dor a seco é intragável, mas ministrada com doses de humor se torna remédio.

Somar anos de vida é aprender que aqueles que me amam não amam a minha beleza, inteligência e virtudes, amam o brilho de eternidade no meu olhar. E que esse brilho, quase sempre se destaca na tristeza, nos momentos que a estética dá lugar ao natural.

Somar anos de vida é ter a calma que não se é tão louco, e que sempre haverá  outro tão  louco quanto eu capaz de entender-me. (Isso é uma das coisas que mais agradeço a Deus. Poder ter encontrado a paz que não se está sozinha,) 

Somar anos de vida é apreciar a solidão. Como disse meu estimado Rubem Alves: "Solidão é o ar que se respira quando se entra na paisagem da alma" e completa : " Por isso, quanto mais fundo entramos nas paisagens da alma, mais silenciosos ficamos. "



Sabe, não me enfeitiça colecionar aniversários nem aprendizados. Quero ser amiga do tempo!  Que ele me traga aquilo que  considere oportuno pra mim.
De nada me serviria tudo que aprendi até o presente momento se não tivesse sido marcado por momentos fortes, vigorosos, abundantes e transcendentes. 
Pra mim o grande demarcador do tempo é a Intensidade. 




Quero tatuado na pele da minha alma sua marca... 

Que seja intenso em quanto dure!









sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sofrimento... Será?

Demorei a aparecer... Não estava muita certa e convicta do que escrever. Na verdade confesso que não estava muito certa e convicta de mim mesma... 
(Uma puxada de ar bem funda) 

E mediante a essa sensação de estar confusa, tive o insight... Isso precisa vir  pra cá, afinal isso se chama DIÁRIO DE UMA VIDA EM EVOLUÇÃO  e tem a finalidade de compartilhar minhas alegrias, reflexões, devaneios, dores, tristezas... Em fim, tudo o que uma vida precisa para evoluir.  

O meu querido Iniciador/Ídolo (Carl Gustav Jung) comenta em um dos seus escritos o seguinte: "Só o médico ferido cura, e mesmo ele, em ultima análise, não pode curar além do que curou a si mesmo" 
Bonito né?
O momento que tenho vivido me leva a crer que além de me fornecer matéria prima, afinal, poeta machucado é que faz belas composições,  terei bagagem para o momento que a Psicologia me reconhecer como responsável para atuar. Isso me move a me encharcar do atual momento de dor. 
Não, não quero seus pêsames... Fique tranquilo! Eu não viria até aqui para me imolar. É contraditório, eu sei, mas fique certo...Estou em PAZ.
É engraçado, nunca entendia muito bem como aqueles mártires da Era Cristã (apóstolos e discípulos)  podiam dizer encontrar a paz em meio ao sofrimento. Talvez a forma que fui apresentada a essas histórias é que não me permitiam compreender, ou ainda não era o momento de tal compreensão. Não sei a você, mas a mim me contavam (escola, catequese, igreja) que o sofrimento era o nosso passaporte para o céu, eu sentia arrepios. Viver para sofrer? Que coisa mais sem cabimento. Com uma vida tão convidativa para celebrar porque sofrer seria o passaporte? 

Que bom que os questionamentos sempre me acompanharam. Eram eles, e até hoje são, os questionamentos que puxam minhas vivências. São como cavalos selvagens, quase sempre desgovernados, puxando uma carroça. 
Foi refletindo e escarafunchando que cheguei ao entendimento daqueles mártires. Quem disse que a verdade existe porque ela é falsidade está corretíssimo. Foi duvidando  que cheguei até aqui! 
Inclusive, deixo uma citação de Neidson Rodrigues (Filósofo e Educador) que vem a calhar;
"Não aceite verdades acabadas. Não dê adesão ao primeiro palavreador de falas estranhas. Não aceite ser submisso porque a lei assim estabelece. Não pise apenas em terreno que alguém limpou para você passar. Examine se esse alguém não quer assim direcionar o seu caminhar. Não atente apenas para a voz que clama, porque ela pode estar querendo desviar o seu caminho. Não tema escalar montanhas, porque se é arriscado e difícil subir as encostas, os vales também estão repletos de lodo e serpentes. Coma do pão que conseguir amassar, a carne que puder cozer, a água que puder recolher. Acostume a deitar na cama que você mesmo preparar, a habitar a casa que levantar, a ler a palavra que escrever, a ouvir a musica que produzir, a se entregar a mulher que conquistou. Assim, meus filho, você poderá se  conhecer a si mesmo. Poderá dominar as estranhas forças que procuraram criar amarras e limitações mesquinhas. Laços que você não merece." 

Estou vivendo um momento de transição considerável... Tudo o que construí até aqui, que achava ser concreto e durável para sempre, vejo pelas minhas próprias mãos ser colocado de lado. Eu levei quase 12 anos construindo um projeto, uma profissão, credibilidade...E vejo nas minhas atitudes, na minha fadiga em estar presente nesse meio que o tempo para isso passou. 
Eu me questiono a respeito, me torturo e reflito... Mas essa dor de fazer o que já não quero mais fazer só me reforça que é tempo de partir. 
Sabe o que é mais duro? 
Não há amanhecer sem um longa noite, não há primavera sem um árduo inverno. Pra tudo é preciso tempo e paciência. Ou seja, estou saindo de uma casa, onde eu ajudei a erguer (meu trabalho, meu escritório, minha posição ) para ser uma andarilha sem residencia fixa (estudante de psicologia e projetista de ilusões). Sim, porque até que a minha nova casa seja habitável será preciso dormir ao relento, fazer calos nas mãos, ter os pés fincados na terra. 
Cheguei de mansinho. Ao passo que fui sondando e fuçando esse novo caminho era como se tivesse descoberto dentro de mim um terreno muito bom para construir uma nova morada. Era como se esse terreno sempre estivesse aqui dentro, porém abandonado por mim. Encontrei muito trabalho, limpar, capinar, arrancar as ervas daninhas, virar a terra e tanto mais... Quanta alegria! Mas o momento que chega é o de concentrar forçar para assentar o alicerce do meu novo habitat. Não dá mais para morar em dois lugares.
É com dor no coração que me despeço do meu querido lar que até o momento me aqueceu, me aconchegou e me maturou para ir de encontro a um pedaço de terra que só tem o espaço vazio para me ofertar, espaço esse que caberá a mim preencher, construir e personificar. 
A você que me lê; Só peço... "Não me interprete se não me entende"


Medo? Não! Estou tomada por um negocinho chamado "Entusiamo".  A etimologia dessa palavra se encontra no grego - "in theus" -, isto é ter Deus dentro, ter tônus vital, energia. 
Mesmo com todas as adversidades que terei, a dor da despedida que sinto, a perda do conforto, estar tomada por essa divindade  me dá  paz... Me dá a certeza que sofrimento é aquilo a que se fica acorrentado, preso, submetido à... Logo, não sofro. Porque estou tendo a oportunidade de ser livre, solta e entregue como há tanto já desejei.
Por fora minha expressão pode até demostrar dor e uma leve tristeza, afinal, não sou um ser tão iluminado ao ponto de não sentir apego pelas coisas, mas por dentro nunca estive tão disposta e entusiasmada.

Só quem sabe a dor de uma despedida pode compreender a alegria de uma chegada!
"Então a dor da contradição se transforma no mistério do paradoxo"


Sabe, no dia 31/12/2014 eu plantei essas florzinhas aqui...




Fiz com tanto esmero e entusiasmo que acho que elas sentiram. As flores que estão abrindo e as cores que estão ofertando falam muito mais do que qualquer poesia. Uma coisa que é passível de pontuar é que o plantar delas foi uma ação solitária, já a colheita está sendo congregada. Essas gracinhas não enfeitam apenas aos meus olhos, e sim o de todos que tem olhos capazes de ver, pois estão na frente da minha casa. Todos podem colher sua beleza. 
Isso me faz refletir perante o meu momento confessado. 

A expectativa que me ronda é que eu possa render alguma espécie de fortúnio após essa labuta, e que de projetista de ilusões eu passa ser promovida à auxiliar de andarilhos.