Algumas coisas me levam a esse assunto. Estou com uma semana que fiz a passagem dos meus 28 para 29 anos. Estamos nos aproximando da Páscoa, data que aprendi ainda na escola, ser uma passagem. E por fim, estou acompanhando a passagem do meu estimado avô para o momento, tão sagrado quanto o nascimento, a morte.
Minha escolarização foi em escola de freiras e por isso durante os 8 anos que lá estudei tive como matéria ensino religioso.Como eu gostava dessas aulas! Não, não ensinavam sobre a fé ou como ter fé, lá eu aprendi a história do homem em busca desta tal "fé". Nessa matéria teve uma história que prendeu minha atenção e que eu particularmente gosto muito, é a de Moisés e do povo hebreu em busca da terra prometida. Eu me lembro da minha professora Irmã Luci dizendo que essa história tinha uma essência, a passagem da escravidão para a liberdade. A mesma essência que nos leva ao entendimento da Páscoa Cristã, passagem da morte para a vida eterna.
Todo o contexto me fascinava, a história de vida de Moisés, a sua revolta contra o sistema, sua fuga para o deserto, a voz que queimava como fogo em salsa, a negociação para alforriar o povo, a fuga, a chegada à margem do mar vermelho, a travessia, os 40 anos pela busca. Me fascinou durante algum tempo pelo romance, pela fantasia, pelo tom de milagre que ecoava em meu ouvido. Hoje me fascina pela busca, pela luta, pela esperança, pela história, pela coragem.
Quando me refiro à fantasia, faço essa referencia porque eu resumia essa história da seguinte forma: Um povo sofredor e oprimido, um líder, um Deus e pronto. 40 anos depois chega-se a Jerusalém! Eu não conseguia mensurar as dificuldades, as lutas, os medos, as derrotas que foi preciso experimentar para tal enredo. Mas hoje, ao sentir na pele, ou melhor, na alma, a energia de uma passagem, uma parte de minha consciência nasceu!
Mesmo sendo oprimida, escrava, mesmo sendo subordinada a um "alguém" ou a si mesmo, existe uma espécie de zona de conforto, existe segurança, certeza. O preço é alto a se pagar mas é mais alto ainda o preço da liberdade, pois não há garantias, não há um ponto fixo e palpável a se esmerar. Quando se decide por tal, é preciso sentir algo muito maior a motivar e a liderar, assim como a voz que como fogo queimava em salsa para Moisés, caso contrário, a passagem nunca será concluída. Sempre se chegará a margem e ali ficará, à beira de si mesmo.
Pense em ir a uma viagem onde não se sabe qual a temperatura, o que se terá para comer e se terá algo para beber, se terá onde repousar... A única coisa que se sabe é que irá para ficar, não se pode voltar, não há volta. ***Nós mulheres certamente levaríamos umas 3 malas tamanho família de rodinhas, umas 5 nécessaires e bolsas trançadas sobre os ombros. Roupas para todas as situações, sapatos para as diversas eventualidades e claro, comidinhas. Tudo bem, levaríamos uma casa ambulante!*** Agora pense em andar kms e kms... Perderíamos os braços.

É preciso se despir de toda parafernália, de todo contexto, de tudo que soma. Só se faz a passagem quando se está nu, quando se está a mercê.
Hoje posso entender os cultos aos deuses de ouro daquele povo no deserto, como julgar? Pois se largar, se jogar ao nada, ao vazio, traz medo, insegurança. Eles precisavam de suas muletas psicológicas, assim como nós precisamos até hoje.
Neste momento, ALGO MAIOR me motiva, me lidera para tal passagem. Sinto já ter ido algumas vezes à margem do mar vermelho, mas ele não se abriu. Falta meu povo, falta gente da minha gente para a travessia. Preciso encontra-los para que o mar abra passagem ao meu coletivo singular. Já sinto uma ponta de receio... Não poder levar minha bagagem, minha soma, meus títulos, minhas vitória, confesso... Me desestrutura! Mas maior que o meu medo é o brilha que encanta os olhos, encontrar meu Povo! Quem são as criaturas que preciso juntar, reunir, plasmar a mim? Ou eu me plasmar a eles?
Mal posso esperar para encontra-los...
O meu avô? Ah, esse já está no deserto chegando próximo do destino. Acho que ele já pode avistar as muralhas.
Tenho acompanhado sua travessia e posso testemunhar sua luta para se encontrar onde se encontra. O seu semblante sereno e sua áurea iluminada exteriorizam que o que ele vê é lindo, é DIVINO.
Todos os povos, todas as criaturas, independente do tempo, sempre hão de buscar a liberdade. A Passagem e a peregrinação é fundamental, sem ela não há essência, não há individuação, não há transformação, não há unidade com a fonte SUPREMA.
Que a Páscoa , essa data tão simbólica, com tamanha energia, circule em mim, em você, a busca pela PASSAGEM.
Que a figura de Cristo seja o nosso maior exemplo de Peregrino a ser seguido!
''...Quem são as criaturas que preciso juntar, reunir, plasmar a mim? Ou eu me plasmar a eles?Mal posso esperar para encontra-los...''
ResponderExcluirAs sua palavras sempre mexeram com ''meu povo'' mas não lembro de ter me arrepiado tantos vezes.
A destreza é tamanha que fica leve, fácil...Lindas e sábias palavras!
''Eu não sei que ventos sopram lá fora, mas preciso abrir as cortinas da minha alma e arejar a janela do meu ser''
By: Fran. <3
Puxa Fran, obrigada minha amiga pelo carinho de deixar aqui suas palavras. É tão, mas tão mesmo, gratificante saber que o que mexe com a gente mexe com outro tbm...
ExcluirVai minha amiga... Vai sentir o ventos que sopram lá fora... Estou e sempre estarei a torcer por vc. E aplaudindo, claro!! Bjs n'alma minha grande amiga.
''As maravilhas do país de Alice'' ;)
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