sábado, 22 de setembro de 2018

ELE NÃO é bem mais do que uma questão partidária. É meu compromisso e responsabilidade comigo, com os meus, com NÓS.

Desde a minha última postagem, passaram-se oito meses. Confesso que a sensação que tenho é que neste tempo vivi anos. Tamanho foi a intensidade e a profundidade do que vivi deste então.
Minha ultima postagem foi especial. Ela teve um grito de liberdade, de consciência e revolução. Chego até pensar que está na hora de mudar o nome do blog para "Diário de uma vida em REvolução" 
O que registrei aqui há oito meses atrás foi um símbolo de toda uma trajetória de buscas incansáveis, de dores intermináveis e de amores incuráveis... Mas, acima de tudo, símbolo de uma trajetória que finalmente havia encontrado seu real percurso. Depois de tanto perder-me e esconder-me, ouvi, acolhi e entendi o que haviam feito de mim.Ou melhor, o que eu não podia impedir por não ter sido desperta para tal ação. E então, finalmente, a partir de uma  dolorosa tomada de consciência, tive forças para decidir que o medo não mais me assustaria e que não mais deixaria que amarras e mordaças me fossem impostas. 
Escrever e escrever-me foi mais do que ouvir a Alma, pois, ouvir a Alma é conditio sine qua non para colocar-se em liberdade, mas, sim uma atitude de responsabilidade e compromisso para com o mundo.
Afinal, sabem os loucos que o gosto e a necessidade pela escrita é o gosto e a necessidade do compartilhar, do vínculo, do encontro e da transformação.
Aqui está o link para acesso de meu marco, caso tenha curiosidade - Histórias que a Alma conta: um dia a gente ouve.

E é sendo calcada nesta responsabilidade e compromisso que não me autorizo a ser silêncio diante do atual cenário de nossos país. Omitir-me e assistir passivamente tal momento sem minha manifestação, mesmo que insignificante num blog qualquer, seria assinar minha demissão do mundo. 
E o mundo? Ele é onde minha alma se faz e habita. Sem ele eu estou encarcerada em minha mesquinhez. E dele, não posso e nem quero me omitir. 




Há dias que ideias invadem meu juízo solicitando serem transcritas...
Há dias que revolto-me com muitas pessoas com uma vontade louca de rasgar a etiqueta e escancarar minhas palavras nada requintadas de decepção e de tristeza para com as mesmas.
Já faz algum tempo que me preparo para quebrar o silêncio de oito meses sem postagens, entendendo que o momento de vir até aqui deveria ser mais do que uma atitude de revolta. Entendendo que esta postagem deveria ser o que de fato sempre fiz neste blog, uma confissão. 
E por isso, que em todos esses dias tenho peneirado, separado e diferenciado meus afetos e opiniões, buscando compreender o cerne que me mobiliza. 

E foi então que pude tecer a compreensão que minha revolta está nesta constatação; 


"Agora que vejo límpido e transparente, depois de anos de vendas nos olhos, vocês querem me cegar?Agora que sou dona de meu corpo, do meu querer, das minhas vontades e do meu agir vocês querem me condenar ao retrocesso?Agora que meus pulsos e pés foram libertados dos grilhões do medo, vocês querem me impor o cárcere? Uma pássaro que vive em gaiola e nunca voou, pode realmente achar que o mundo na vastidão do céu pode ser perigoso e danoso. E sim, têm seus perigos e riscos, mas quando se voa sozinha. Quando se voa em companhias, a viagem é uma jornada de transformação e de conhecimento de novos horizontes.Um pássaro que viveu em gaiola e voou - experimentando a liberdade - não consegue se satisfazer com a segurança opressora que não compensa e não realiza o prazer dos perigos, dos erros e dos acertos, de uma vida livre."

E foi então que entendi minha revolta com aqueles que acreditam que acabar com a violência e a bandidagem de um país seja pela imposição da moral, dos bons e velhos costumes, da execução do dente por dente, olho por olho, para então retornar ao paraíso perdido. Que a propósito quero saber; quando esse fantástico paraíso existiu?

A minha revolta é poder estar livre (entendendo que estar livre é estar consciente dos condicionantes que me afetam diretamente), tendo consciência de todo o tempo que estive presa. Detalhe, presa, porque algoses  sem rostos sempre fizeram questão de omitir que tais condicionantes não eram condições e sim determinações. 
Ora, liberdade não é fazer tudo o que pensa e o que quer. Liberdade não é ser livre e independente de tudo e de todos. Liberdade é poder criar opções, perspectivas e entendimentos por saber exatamente das coisas e pessoas que estão atreladas e dependentes de você. Liberdade é poder ter escolha mesmo diante dos inúmeros condicionamentos, e claro, sendo responsável por tais escolhas. 
Minha revolta está em ver e acompanhar uma massa de veneno tóxico de efeito entorpecente e opressor, que busca substituir "condições" por "determinações", sendo ovacionada como a salvação e a retomada do paraíso.

Esses que aplaudem e esperam o dia da fantástica redenção afirmam que não aguentam mais a violência, a bandidagem, a corrupção e a pouca vergonha...
Pois bem, deixa eu contar algo sobre mim, sobre os meus, sobre nós;

A violência que me acometeu durante anos não chegou através de pessoas armadas e encapuzadas, e sim de forma velada e sem rosto por meio de imposições de uma sociedade neurótica que me dizia o que era certo e errado. 
A insegurança que vivi não esteve apenas nas ruas, ônibus e espaços públicos... Sempre esteve presente, até mesmo em casa, na igreja e na escola, nos olhares de recriminação e condenação de minhas atitudes e falas. Detalhe, essa insegurança teve inicio na infância.  
Minha insegurança também esteve presente nos olhares insanos e devoradores de homens que diziam que eu era a tentação, o fruto do pecado e a perdição. Me fazendo acreditar que eu era a  culpada por provocar a insanidade deles.
O medo que durante anos me acompanhou não estava associada apenas ao ladrão e ao bandido que poderia me assaltar. Meu medo estava em ser o que eu queria ser, em dizer o o que eu queria dizer e em quebrar regras...Porque meu medo diário era constatar que dia após dia assaltavam meus sonhos, meus desejos e minhas vontades. 
A corrupção que eu sofri, foi quando medicalizaram meu sofrimento, levando meu dinheiro em remédios e diagnóticos, me fazendo acreditar que eu possuía transtornos por ser inconformada e apresentar vontades proibidas.(Ex. de vontade proibida: fazer o que gosta quando isto não te dá dinheiro e status) Ah, também fui corrompida quando me disseram que deveria seguir a fé sem questionar e que a não submissão à vontade de um deus professado por homens era pecado.  
Sem contar as violências que sofri no mundo corporativo sendo obrigada a participar de "poucas vergonhas" naturalizadas. Ex: Mulher bonita no depto. de vendas é retorno certo. Faça sua melhor performace Suellen. Seja simpática, cordial, atrativa e saiba sair pela tangente sem ofender o cliente, viu!?"

Essa mesma violência que me condenou durante muito tempo a solidão e ao autoflagelo de que eu era louca - por não me acostumar com isso - foi também a que condenou pessoas da minha família aos antigos manicômio e ao suicídio. 
Eu vi essa violência trancafiar mulheres da minha família às celas da amargura, da solidão e da depressão. Eu vi essa violência arrombar fisicamente mulheres de minha família, deixando marcas impossíveis de serem apagadas. Eu vi essa violência afastar pessoas queridas por condenações e julgamentos com os dogmas da verdade tradicional e institucional. 

Essa mesma violência que esteve presente em meu cotidiano e nos cotidianos dos meus mais próximos, e que ainda insiste fazer novas vitimas - como o meu filho - torturou, condenou e marcou de sangue a história da humanidade.

E é essa violência, que se eleita, será implantada com consentimento.




Claro que temos problemas sérios de ordem social, econômica, cultural e educacional para resolver. Não sou Pollyana. Contudo, tais problemas são desdobramentos de uma inconsciência que insiste em permanecer exatamente por muitos que ainda são resistentes quanto a abertura das gaiolas. Foram tão doutrinados a uma educação do medo, da vergonha e da culpa, que não satisfeitos em ficar em suas gaiolas, querem eleger a figura do "carcereiro" como presidente para tolher aqueles que finalmente podem voar.

Uma nação que só se preocupa com aquilo que pode ser contabilizado, vendido, arrecadado e acumulado, é uma país que o ladrão pode assaltar, a ferrugem e a traça corroer. Olhe e veja o que somos, senão o local marcado no mapa dos piratas! 
Uma nação deveria juntar riquezas no céu. No céu que nós mesmo podemos criar. Ou seja, na grandiosidade de nossa capacidade de amar o diferente, de estabelecer relações horizontais, de viver a indulgência e educar o outro por nossas próprias atitudes de amor. Afinal, não é possível falar de amor vivendo e autorizando atitudes de violência e de obediência.
"Não é possível servir a dois senhores"

Agora me diz... Quais são as dores que você carrega que te fazem eleger a imagem da opressão e do ódio como soberano? Quem cortou suas asas de águia e impediu seus voos te fazendo acreditar que você só era uma galinha? (Recomendação do livro "a águia e a galinha: Uma metáfora da condição humana" - Leonardo Boff)
Voar sozinho é difícil mesmo, mas, de novo reitero, voar em companhia é uma aventura, é conhecimento. Você não precisa ter medo da insegurança do infinito, quando se está em companhia. Você não precisa escolher a prisão por medo da liberdade.




Se queremos de fato mudanças e transformações. Se queremos liberdade de ir e vir, de andar tranquilamente pelas ruas e de ter nossos direitos assegurados, devemos começar por abrir mão de nossa mesquinhe individual. Um mundo não é um "ap" onde eu vivo sozinho e só minhas vontades devem ser leis.

E por isso, me apropriando dos inúmeros aprendizados que tive com o velhinho Jung, afirmo: Somente quando eu entendo, vivo e me comprometo com a comunidade humana, e não apenas com meus valores, conceitos e dogmas, é que estou de fato contribuindo para a evolução da humanidade. Caso contrário, estou sendo soldado da estagnação.



Quando eu me levanto para dizer "ELE NÃO", passa longe de uma questão partidária ou de uma corrente feminista, estou a fazer por mim e por minhas marcas, por todos o que vi sofrerem (homens e mulheres), por todos que ainda sofrem e para honrar os que muitos já lutaram e morreram lutando. E claro, para manifestar e impedir um futuro de sombras e celas.
Não quero de meu país uma potência econômica, onde fico passiva da iniciativa.
Quero de meu país uma potência humana, pois aqui eu sou ferramenta de trabalho e de construção!!


"A individuação é o 'tornar-se um' consigo mesmo, e ao mesmo tempo com a comunidade toda, em que também nos incluímos. Estando assim assegurada a existência individual de cada um, logicamente também se garante que o conjunto organizado dos indivíduos do Estado, ainda que este se revista de uma autoridade maior, não mais constitua uma massa anônima, mas uma comunidade consciente. Contudo, há uma condição prévia indispensável para se chegar a isso: é a opção consciente e livre e a decisão individual. Uma verdadeira comunidade não pode existir sem essa liberdade e independência de cada um, e - vamos e venhamos - sem uma tal comunidade, o próprio individuo que se fundamenta em si mesmo e é independente, não pode progredir por muito tempo. Além disso a personalidade independente é a que melhor serve o bem comum" (Jung, 2013,p.227)

#elenao
#elenunca
#elejamais






quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Histórias que a alma conta:um dia a gente ouve.

Meu blog completa quatro anos de existência. Me lembro bem a empolgação e a alegria em cria-lo, inclusive a primeira postagem falava disso - Minha mais nova receita de felicidade
De lá para cá foram tantos acontecimentos, tantas mudanças, tantas transformações... Lágrimas, sorrisos, questionamentos, abraços e tropeços permearam minha caminhada.
Claro que aqui não está tudo registrado, até porque, o que vem para cá são ideias organizadas, refletidas (nem tanto) e lapidadas. Somente a vida, em sua majestade e complexidade,  é que sabe de fato das aventuras que me embrenhei. 



O gostoso de ter esse recursos - sejam virtuais ou os tradicionais diários - é que ao mesmo tempo em que se conta algo, esse algo conta de ti. Aos passar dos anos, esses trechos, textos, prosas revelam muito mais de que as palavras ali elucidadas. Esses fragmentos revelam um movimento vivo e autônomo. Talvez, possa nomear de "ciclos", "processos inconscientes", "jornadas"...Não sei que nome dar. Mas, o que há é uma história contada que não foi racionalizada e operada pelos processos cognitivos da minha consciência. E essa história provoca um espanto, porque sem a intenção de conta-la é ela que me conta. 



É uma história que nem mesmo o maior dos autores literários, contistas ou poetas poderiam criar algo tão criativo e tão recheado de espantos e surpresas. Arriscaria dizer que esta "história mística" conta um destino, ou melhor dizendo,  aponta um destino. 
Por exemplo, eu sinto agora  como que chegado num "ponto de encontro" que a mim estava reservado. Mais do que sentir, é ao ler-me que encontro a certeza e a convicção que é AQUI que estava sendo aguardada. 
A alma conta histórias que só quem a escuta pode confiar no processo! 




Quando me refiro a "ponto de encontro", é porque não consigo ouvir nessa "história mágica" uma conquista, uma vitória ou aquela voz de Gps: "você alcançou seu destino". O que eu leio, ouço e sinto é: "finalmente, você chegou! Temos um longo trabalho, vamos sem demora." 




E não posso negar, que isso me traz um pouco de tristeza. Pois, ao ler-me, o que vejo é que por impedimentos no caminho, causados por inúmeras circunstâncias e pessoas, por intransigência minha, pelo medo institucional criado e instalado nas células de meu Ser (não só em mim, como nas células de todos os viventes desse mundo), eu atrasei a chegada a esse ponto.  Passei alguns bons anos sofrendo e padecendo por ter seguido trilhas vendidas como "seguras" que me fizeram perder-me de mim. 







Essas trilhas são o que chamamos de aprendizagem. 

Nos ensinam como pensar, nos ensinam como portar-se, nos ensinam como ganhar dinheiro, sobreviver, vencer na selva de pedras...Inclusive, nos ensinam que não seguir tal aprendizagem trará desmérito, punição e sofrimento. Indo além, nos ensinam que quem se rebela aprender tem déficits, transtornos, defasagens e são as escórias da sociedade. 
O ensinamento é tão intensivo e eficaz que ele se personaliza dentro da gente e ganha roupagem de voz celestial. Ao ponto, que toda voz ardente e pulsante que sussurra, fala e grita dentro da gente é tido como o oposto do anjo. Quem nos vê andando por aí com sorrisos nos lábios, não pode supor a guerra que se trava em nossos recônditos.  Guerra, essa, que também nos ensinam ser o duelo do bem x mal. 
Ou seja, somente aqueles que resistirem bravamente as tentações, as paixões, as vozes viscerais do corpo e da alma é que terão vencido na vida. O que se sucumbirem? Pobres... São os desajustados, os irrequietos, os pervertidos, os sem juízos, o que vivem de arte e poesia...
E então, pronto!! As neuroses foram implantadas! Depressões, transtornos de ansiedade, fobias... Como é que falam? Ah, sim.. são doenças do século. 
É interessante pensar que mesmo a psicologia moderna já se debruçando sobre isso desde o século XX, o que ainda continua a se dizer fortemente a cerca de tais mazelas são sobre as causas biológicas e neuroquímicas das doenças mentais. Isto é, a disfuncionalidade do sujeito. 
O triste disso tudo é que de forma muito tímida e quase sempre escondida em paredes de settings terapêuticos/analíticos é que se faz o desmonte - "a aprendizagem massificadora te conduziu a esse sofrimento. Sua doença foi criada!"




De forma alguma quero transformar o processo de aprendizagem e o meio social, com seus sistemas complexos, em algozes. Até porque, acredito que não somos apenas resultado do meio. Estudo e continuarei a estudar a importância do processo de socialização e de endoculturação e sua real função na vida dos sujeitos. Afinal, isso "também"nos faz e nós somos construtores direto disso, mesmo que não tenhamos consciência. 

Contudo, que fique claro, minha critica acompanhada de tristeza, é contra essa aprendizagem perversa e opressora que demoniza a natureza, as fantasias, as intuições, os questionamentos, o Ser. A minha critica é para a imposição do saber, é para os homicídios da alma. 
"É o fascínio que acorda a inteligência.  O conhecimento surge sempre do desafio do desconhecido. Essa frase deveria estar escrita em algum livro de psicologia de aprendizagem. Pena que eles digam muito sobre a ciência de construir navios e nada sobre o fascínio de navegar..." Rubem Alves.  


Eu sou uma sobrevivente consciente da violência psicológica de um processo de aprendizagem opressor e cruel. (QUE NÃO FIQUE DÚVIDAS, NÃO ESTOU A FALAR SOMENTE DE PROCESSO ESCOLAR) Eu fiquei bons anos da minha vida buscando (igreja, psiquiatras, neuros, psicólogos, analistas)  uma normalidade que não possuía. Busquei incansavelmente curar o incurável. O meu mau era sentir - fundo e intenso - ver, ouvir, indignar-se, questionar, inconforma-se, querer mudanças. Mas, em quase toda a trajetória de busca por auxilio isso sempre era usado contra mim, pois dizia da minha inabilidade em se adaptar. E quanto mais eu tentava a tal adaptação mais eu adoecia.
Tive ainda um outro problema, quando o meu sofrimento não foi visto como inabilidade foi visto como santo e sagrado para alcançar a tão idealizada "individuação". Nas duas situações eu fui violentada, sem que o que eu de fato sentia e externava fosse verdadeiramente ouvido e compreendido. 
Nas duas situações, me amordaçaram e me deram como instrução sublimar toda essa potência, essa força, esse inferno. Me disseram que se eu abraçasse minha cruz e a beija-se então ela seria minha redenção. Não tendo outra escolha, ou melhor, entregando-me cegamente aos "entendidos", orgulhei-me do sofrimento por não ter tido a coragem de humilhar-me em lágrimas. 
E foi então que o blog surgiu - surgiu como sublimação de uma energia que tentava se trancafiar em palavras. Sei da sua funcionalidade e do quanto me foi importante, não posso e nem quero negar. Mas, boa parte dos meus textos falaram e dissiparam sofrimento e dor, e pior, falaram da exaltação aos mesmos. 







Mas 2017 ao chegar trouxe TANTO mistério, força e energia, que o pouco de habilidade que eu tinha para adaptar-me esvaiu-se por completo. E foi quando me perdi "aos olhos dos doutores da aprendizagem" é que me encontrei. Quando assumi verdadeiramente minha condição, minhas ânsias, meus desejos, meus sonhos, minha vozes, minha força, minha maldade, meus rompantes, minha raiva, minha "anormalidade" - eu encontrei paz, confiança e integridade. 

Falando assim até parece que foi como num passe de mágica, mas foram dias, semanas, meses e períodos intensos de CURAR O MEDO da minha condição. 


"A condição não se cura mas o medo da condição é curável" Clarice Lispector.  


Em uma das minhas postagens do ano passado - Jung e Eu, encontros e confirmações, já um tanto imbuída desse movimento de me permitir "seguir-me", de me curar do medo de mim mesma, eu escrevi:  
Seria um desrespeito levar 70 anos  para simplesmente testemunhar que Jung estava certo. Que aos meus 70 anos eu possa ter coisas inéditas para contar o que aprendi com a vida, a exemplo daquele que por hora me inspira. 
E é com uma grande satisfação, que na primeira postagem de 2018, eu afirmo:
SER já não é dor, é prazer! Eu não precisei esperar que a velhice me desse a coragem para dizer o que eu sempre virá e não dissera, por medo. 
Eu não mais vou sublimar minha latência, agora é ela quem me conduz na criação de mim e do mundo.  





Foi ao ler-me, ao considerar-me, ao debruçar-me sobre minhas vivências, experiências e atitudes, assim como sobre o mundo e suas histórias, seu passado e seus contextos é que pude ouvir o inaudível - minha alma. Como já disse, a alma conta histórias que só quem a ouve pode confiar no processo. 

O que concluo disso tudo, é que estamos sendo negligentes e insensatos em perpetuar aprendizagens que violentam, machucam e produzem doenças.
Estamos sendo omissos e ingênuos em acreditar que o sofrimento nos torna mais fortes  e que tê-lo nos dignifica.
Estamos sendo ignorantes e cruéis com a beleza da vida em acreditar que a grande jornada humana é resistir, represar e sublimar forças tão puras e intensas. 
Estamos atrasando a tão almejada evolução ao seguir acreditando que só na período crepuscular de nossas vidas poderemos alcançar a sabedoria. 


"O essencial é saber ver -
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...
Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de  lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta  com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu..."    
Fernando Pessoa

Por que ao invés de  exaurir nossas forças em uma aprendizagem do desaprender não investigamos profundamente em uma educação para alma? 

Agora entendo a história e porque EU estava sendo aguardada...
Borá assumir aquilo que sei! 



sábado, 23 de dezembro de 2017

"MORRER DE AMOR NÃO DÓI"

Amor primitivo, amor carnal, amor projetivo, amor fantasioso, amor louco, amor de amigo, amor de irmão, amor platônico, amor de cama ou de uma transa.... São amores! Quem dirá que não!? 
Aprendi que se há transformação, modificação, operação de pensamentos e entranhas em uma relação, esta se vivendo o AMOR!


Diz Rubem Alves, que a instituições religiosas trancafiam Deus em gaiolas quando o definem em seus conceitos teológicos. Eu penso que o mesmo fazemos com o Amor. Cresci em um mundo em que o amor foi conceituado e condenado a circunferências limitantes e sufocantes - gaiolas - e que se transformou em pássaro raro e de estimação que apenas os especiais e santos os têm. 




Estuda-se o amor como objeto da ciência, discute-se e divaga-se sobre o amor nas mais diversas escolas da filosofia, as religiões proclama-o como meta da moral, enfim, analisa-se, apregoa-se e afirma-se que o amor verdadeiro é aquele que é trancafiado e  aprisionado em teorias, conceitos e valores padronizados. 

Amor é liberdade, dizem uns.
Amor é renuncia, dizem outros.
Amor é desinteresse, dizem os outros mais.
Pronto! Temos os doutores do Amor. São aqueles que além de teorizar o que é o Amor impõem suas verdades aos demais a sua volta dizendo " não, se não é assim, não é amor. É paixão, projeção, pertubação, obra do demônio... mas amor não é." 
E qual o resultado disso? Pessoas sofrendo por não ter o pássaro de estimação de nome Amor. Sofremos por não vivermos um amor idealizado e apregoado pelos doutores do Amor, pois, como lembram tais intelectuais: amor é para o sábios, para o integrados, para os individuados, para o de personalidade ampla e desenvolvida, para os puros e livres de pecado. Ou seja, amor elitizado. 
Imersos nesse sofrimentos, produtos como: análises, retiros espirituais, exercícios e oficinas que vendem serviços de transcendência ganham destaque nas meios mediáticos, pois vendem a ideia de que por meio da aquisição de seus produtos os marginalizados do amor - nós - vai poder finalmente ascender, evoluir, torna-se sagrado e conhecer o tão celeste amor. E então, a comercialização do amor alcança seu objetivo. Ora, comprar um produto e ter resultados extingue clientes, a não ser que o anuncio afirme que os resultados são a longo prazo, como fazem boa parte desses serviços. 
Nota de esclarecimento: Que fique claro, que minha opinião não é generalista e muito menos condenatória. Inclusive, sou estudante de psicologia e certamente trabalharei como psicoterapeuta. A minha alusão aqui é sobre os pseudoprofissionais que se beneficiam da inconsciência coletiva e buscam tirar proveitos próprios deste estado de massificação.  

Pois bem, iludidos e desolados afastamo-nos das vivências, das experiências, da carne, do sangue e da dor e passamos a viver anestesiados e hipnotizados seguindo vozes das ideologias e conceitos essencialistas. E, aí sim, pálidos, fracos e esmorecidos buscando o amor como meta, não temos energia para perceber que o Amor é a origem, o meio, o caminho e o caminhar. 




Eu tive um sonho lindo que me teve, no qual uma voz afirmou: "Morrer de amor não doí" 

Sim, amor mata! Amor sacrifica! Amor transforma e transmuta! Amor não é só o lado bonito, positivo e quase inalcançável da condição humana. O amor possui seu lado sombrio, mas não o aceitamos e nem os identificamos porque somos contagiados por por sua versão revisada e conceituada. O amor é uma vivencia arquetípica que guarda em seus mistérios a convivência dos opostos . 

"Amor trata-se do que há de maior e de mais infinito, do mais longínquo e do mais próximo, do mais alto e do mais baixo e NUNCA qualquer um desses termos pode ser pronunciado sem seu oposto. Não há linguagem que esteja à altura deste paradoxo. O que quer que se diga, palavra alguma abarcará o todo." (JUNG,2015,p. 348) 

Sendo assim, toda vivência que mexe com seu corpo, seus pensamentos, seus sonhos, suas atitudes é AMOR. 

Rubem Alves, um dos meus casos de Amor, afirma algo lindo sobre o corpo, sobre a alma;
"Como se fosse um instrumento musical, o corpo somente reverbera com aquilo que lhe é harmônico. Como poderia amar o Adágio da Sonata 31 nº2 de Beethoven, que estou ouvindo, se ele já não existisse em mim, como desejo e nostalgia? Não, não é adágio da sonata. É o meu adágio, pedaço arrancado de mim que Beethoven transformou em música. O que o meu corpo recolhe é o mundo que já morava nele como uma ausência. O corpo é a presença da ausência." (ALVES, 1995, p.23) 

Lindo não!? Tudo o que chama, provoca, excita, comove, reverbera, afeta é o Amor acontecendo.  O outro, o externo me lembra - sem eu ter consciência dessa lembrança - do pedaço faltante, o conteúdo, a ausência, a amplitude e a profundidade, que por hora, se anuncia e pulsa fora de mim. 
Quantos corações temos pulsando fora do peito? 


É claro que corações que batem fora do peito nos condicionam e podem nos deixar aprisionados. Podemos tomar como exemplos pessoas que precisam de rins artificiais (hemodiálises) para se manterem vivas e saudáveis. Infelizmente, são pessoas que precisam se condicionar a algo externo por ter um comprometimento de um órgão interno. 
É preciso incorporar um coração que bate fora do peito. E como se faz? Convivendo, vivendo junto, criação de relação até que o outro seja apenas sinal do amor que agora pulsa em si mesmo. Sabe aquela frase "eu amo amar você"? Ou seja, me amar quando amo você é o caminho do recolhimento. 
O que é lindo disso, é que vivendo o amor em seu estado bruto e original passamos ser um corpo de muitos corações. E a experiência tem me mostrado que quanto mais corações me coabitam maior e mais forte me torno. 

Tem ainda um outro trecho do Rubem  que eu não podia deixar de introduzir nessa perspectiva:


"Somos o jardim que plantamos. Ou o jardim que amamos, sem que o tenhamos plantado, mas que o outro plantou. E quando isso acontece podemos ter certeza de que sonhamos sonhos parecidos. É possível  que possamos nos tornar conspiradores... Eu e o outro jardineiro" 

Isso é de uma profundidade...
Quantas vezes nos apaixonamos por obras literárias, cientificas, artísticas e vivemos um arrebatamento por elas? Amar o jardim do outro (produção, atitude e etc) é sinal de que há em nós formas e sonhos que se projetam buscando ali conteúdos que preenchem nossas margens vazias. E como diz Rubem, "podemos ter certeza que sonhamos sonhos parecidos." Ou seja, eu e o - autor, o artista, o teórico, a outra pessoa - somos conspiradores, amantes, parceiros ligados pelos mesmos sonhos, imagens e formas. 
É um caso de amor!!  


Portanto, se transforma, se cria consciência, se convida cada pedaçinho de mim, isso é a vivência do amor. Como dizer que o amor é isso ou aquilo, se ele é maior do que essas especulações e não tem um ponto de vista apenas? O amor é experiência e sendo vivência não cabe definições. 

Ahhh, morrer de amor doí sim... Dói porque mata uma das mais parte mais vulnerareis e sensível de nós - o egoismo. Mata para fazer nascer, nascermos para o AMOR, pois, ELE é a origem e a meta. 

E depois, pensando bem, morrer de amor não dói mesmo...





Referências (além das minhas próprias vivencias e experiências)

ALVES, Rubem. O quarto do mistério. 2.ed. Campinas: Papirus,1995. 

JUNG, C.G. Memórias, sonhos e reflexões. Ed. Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. 


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Somos terra, semente, jardineiro e semeador. Somos o que Flore Ser

Já cantava o poeta:

“É primavera...E o céu está tão lindo (vai chuva)...”

O céu azul em contraste com os ypes amarelos, juntamente dos cantos dos passarinhos anunciam: Um novo tempo se aproxima.

Tempo de cor, de som, de aromas, de novas texturas, novos tons... De vida nova.
A Natureza de forma despretensiosa nos convida a germinar, a brotar e a florir. É quase impossível não ser tocado pelo canto festivo das andorinhas, não ficar espantado com o desfile das cores das flores e o bailar das borboletas.
Não me lembro de me sentir tão tocada e sensibilizada com essa estação, como neste ano. De verdade, sinto que o movimento de germinar e brotar está  forte e intimamente ligado com os meus movimentos. Sinto-me conectada com a natureza e sendo fiel ao seu ciclo.





Contudo, ao passo que me sinto nascendo e me experimentando diferente, me assusto e me choco com as mazelas de ordem social, política e cultural o qual estamos vivenciando atualmente.  A Natureza dá o tom. O meu mundo interno vibra. Mas parecem-me que em volta não há terra, apenas amontoados de tijolos e pedras secos e frios.





  Há uma parábola, narrada por um dos maiores contadores de história dos últimos tempos, que diz: certa vez “um semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra funda. Mas vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta.” E o contador terminava dizendo: “Que tem ouvidos para ouvir , que ouça.”

As imagens dessa história me invadiram quando eu estava divagando em pensamentos de preocupação e de perplexidade com o mundo. Quando eu me questionava se todo esse espetáculo que a natureza está oferecendo (o advir da primavera) está sendo vista, contemplada, refletida, ou ao menos observada, por esse mundo composto de pessoas ocupadas em ideologias, discursos de ódio, preconceitos e desejo de poder.

E então, dei-me conta que em outras primaveras eu também não estava assim tão ligada, integrada e maravilhada. Dei-me conta que num tempo não muito distante, precisamente há algumas semanas atrás, eu era o “pé do caminho”, o pedregal e os espinhos, onde toda e qualquer semente lançada não criava raiz, porque eu não tinha terra funda.  Porque eu não me permitia ser verdadeiramente profunda.
Dei-me conta que muitos semeadores passaram por mim e que não foi culpa deles eu não ter germinado.
Dei-me conta que horas somos terra noutra somos o semeador.

Como poderei julgar o mundo e as pessoas que não estão a florescer em idéias novas, palavras de amor e atitudes de responsabilidade, se eu por muito tempo também fui terreno infrutífero? Se por muito tempo precisei secar e morrer.
Hoje, se estou brotando e florescendo é porque independente do solo que fui, algum semeador, ou alguns semeadores, não desistiram de lançar suas sementes.
Independente se eu tinha olhos de ver e ouvidos de ouvir a natureza não deixou de realizar seus espetáculos... Nem os pássaros deixaram de cantar, nem as flores de desabrochar, nem a semente de germinar.
No mais profundo dos silêncios, no mistério do invisível, tudo estava a se realizar mesmo quando eu não tinha atitude de me voltar para esses belos fenômenos.





Reflito ainda que se permitir germinar e florescer carece de uma atitude de humildade, de se tornar terra fofinha e acolhedora.  Ou seja, além de sermos solo e semeador, também somos nossos próprios jardineiros.  E mais, só seremos primavera na vida dos nossos se vivermos nossas primaveras internas.
Só teremos o que semear se tivermos sido semeados...
Só teremos disposição para continuar a distribuir sementes de amor se não desistirmos de nossas terras secas, frias e espinhentas.
Só saberemos cultivar o mundo quando fizermos esse cultivo com nós mesmos.

A partir disso, compreendi porque as imagens da parábola do semeador tomaram meu coração. Elas me anunciavam que não devo desprezar meu momento em decorrência do atual cenário que me circunda. Que não devo decepcionar-me com os que não vêem ou não ouvem. Que não devo desanimar e interromper a semeadura.
Pois, “é preciso amor para poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir”

Sendo assim, que a primavera nos inspire a ser terra, semente, jardineiro e semeador...
Que a primavera nos ensine a desabrochar amor..
A mim,
A Você
Ao mundo!




quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Contos de fadas, princesas, jornada da heroína, Elena e eu.

Recentemente assisti um filme bem inocente que fez um mega barulho em meus pensamentos. O filme, uma animação da Disney, que se chama "Elena e o Reino de Avalor", é um conto de fadas. 




Eu sempre tive ressalvas, e até mesmo fui indiferente, com os contos de fadas. Para mim eram "estórias" muito distantes da realidade e que sempre traziam as mesmas concepções; o bem vence o mal, o príncipe salva a princesa e todos foram felizes para sempre...
Nunca me identifiquei com nenhuma das princesas. Talvez, isso tivesse haver com os contos que me foram apresentados, não sei. Mas, aos que eu conhecia nunca fiz nenhum tipo de identificação. Por exemplo, nunca me enxerguei em Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel e etc.  Ao contrário, eu queria ser o herói da história, aquele que lutava, que enfrentava os dragões e que era reconhecido por todos. Ou seja, eu queria o papel do homem. 

Contudo, minha relação com as histórias sempre foi muito forte. Minha vó Tereza - minha grande contadora de histórias - por ser uma mulher muito católica, me enchia de parábolas e de histórias diversas que permeavam sua cultura de mulher simples e da roça. Ahh! Como eu adorava seus causos... 




Pois bem, entre a menina que gostava de histórias, mas que não via graça em contos de fadas, e essa de hoje que vos escreve, há um vale cheio de circunstâncias, acontecimentos, encontros e experiências... E o resultado é que a menina/mulher de hoje é contadora de história e estudante (iniciada) em contos de fadas, além de outras facetas, é claro! 

Descobri que os contos de fadas são muito - mas muito mesmo - mais profundo que aquela ideia que eu tinha. Descobri que eles trazem inúmeros aspectos da realidade humana que estão além do bem vencer o mal e do casamento da princesa com o príncipe. Hoje, por exemplo, eu sei o que realmente quer dizer  "foram felizes para sempre".
Mas, ainda sim ficava um tanto desconcertada com a ideia da mulher ser representada nos contos, quase sempre, como a que precisa ser salva ou a bruxa má. Só que é interessante que esse desconcerto não se dava por questionamentos meus e sim apenas por uma indiferença a essas histórias. Se me perguntassem: "por que você não gosta das histórias de princesas?" Eu diria: "não sei, apenas não gosto!"

Como eu disse acima, existe uma trajetória minha percorrida em um vale na floresta que me conduziu à ambientes e à companhia de pessoas que tinham muito a me explicar sobre coisas que eu ignorava por simplesmente não entender. E, uma dessas coisas, era sobre as princesas e seus mundos mágicos.




Eu era indiferente as histórias de princesas porque não me identificava com elas, porque não me falavam ao coração, porque eu queria um outro papel para a mulher nos contos de fadas. Porque a jornada do herói tinha como objeto, quase sempre, apenas os homens. 

É importante que se esclareça que todas as histórias precisam ser contextualizadas em tempo, época, cultura, crenças... 
O que apresento não é que os contos de fadas estão ultrapassados, ao contrário, eles são atemporais. O que apresento é que como a vida, os contos são vivos e dinâmicos e, por mais que perpetuem a história da humanidade, eles estão em transformação e em construção. Ou seja, eu era indiferente àquelas histórias porque elas estavam sendo apenas repetidas e não reformuladas, recontadas, transformadas. 
O que eu não sabia, e que foi a minha grande descoberta, era que eu podia ser personagem principal do meu próprio conto de fadas e que o meu fazer história pode estar a compor novos contos literários. Isso é de uma beleza e de uma alegria inenarrável, pois, isso significa que certamente estaremos eternizados em contos que nossos descendentes irão ouvir. Isso quer dizer que meninas, como eu já fui um dia, poderão ouvir histórias onde a jornada da heroína tenha sua marca e suas características próprias. Isso quer dizer que os contos de fadas são contos de vidas. 

Despertei para o fato de que não precisamos e não devemos ficar repetindo padrões, temos como dever criar novos. Lembrando que esses padrões, por sua vez,  por algum tempo farão sentido e felizmente serão quebrados. 
Criando, vivendo e transformando. Criando, vivendo e transformando. Criando, vivendo e transformando...

Me atentei que o nosso grande erro é apenas ir vivendo... É preciso mais, é preciso transformar, é preciso Criar. 

Claro, que hoje estudando psicologicamente os contos sei que a mulher adormecida a espera do homem, não se refere ao seu aspecto literal e sim simbólico. E isso é tão precioso! Pois, os contos de fadas há muitos e muitos anos vem nos alertando que o lado feminino está sendo preso em masmorras, envenenado, renegado... Ou seja, nosso antepassados há tempos vem nos sinalizando que é preciso despertar, é preciso lutar, não permitir essa subjugações. É preciso parar de ferir nosso lado feminino!  
E para isso é preciso parceria, relações, encontros. 




Mas o que tudo isso tem haver com Elena e o reino de Avalor? 




A menina, aqui, que não se identificava com as princesas da Disney foi assistir bem despretensiosa a uma animação e se depara com um conto de fadas que apresenta a princesa tomando posse de seu reino. Um filminho inocente, à primeira vista, mas que apresenta a jornada de uma jovem mulher, que aguardou 41 anos para ser libertar e tomar a governança de seu mundo. E detalhe, quem a liberta é uma menina curiosa, corajosa e imaginativa. Não é um príncipe. 
Elena e o reino de Avalor traz a primeira princesa latina da Disney, traz a força e a vigor das mulheres guerreiras desse continente. Elena não precisa partir em missão - ao contrário do tradicional herói - Elena precisa é restabelecer algo que lhe pertence. Elena assumi aquilo que é seu por direito. 

Não quero dar spoiler aos que se interessarem a assistir, contudo, não posso encerrar sem antes contar outra grande diferença dessa história para as jornadas tradicionais do herói.
Elena não enfrenta seu problema sozinha, ela o faz mediado por vários personagens e em conjunto com o povo de seu reino. "Ela é a escolhida, mas não é a única" como diz o guia espiritual do conto. 
Um conto que fala de coletividade, de empoderamento, de um bem comum, do despertar da força feminina.

Ver a arte representando as mudanças que várias gerações de mulheres vem travando durante o percurso de nossa história humana, é a graça de poder confirmar que SOMOS NÓS que fazemos nossos contos de fadas. 




Não foi apenas um "assistir" inocente de um filme, foi uma tomada de consciência que me mostra que eu e Elena temos muito em comum. 






quinta-feira, 27 de julho de 2017

Jung e Eu, encontros e confirmações.

Estava eu retomando um livro de cabeceira que se chama "Carl Jung - Curador ferido de almas" da Claire Dunne, quando me deparei com um fragmento que ela traz, inclusive, referenciando vários trechos que o próprio Jung descreveu, que me causou espanto e boas doses de insights...

É interessante que eu já tinha entrado em contato com esse fragmento da vida de Jung quando li Memórias, Sonhos e Reflexões (MSR), que por sinal, é meu livro de cabeceira também. 
Impactada pela emoção que me correu o corpo e os pesamentos diante do que Dunne apresentava fui correndo ao MSR encontrar o trecho e beber na fonte... E estava lá, sublinhado, circulado, marcado... Porém, só agora fazia todo o sentido do mundo. 

Do que se trata esse trecho? Vamos lá.. Vou discorrer resumidamente...

Com 69 anos (1944) o velhinho danado teve um enfarto cardíaco que o deixou vários semanas internado e em experiência de quase morte. Ele relata com preciosidade as visões que teve nesse período. Mas, como não era sua hora recuperou as forças e viveu ainda por mais 17 anos. Segundo o Jung, foi depois dessa experiência que tempos de grande produtividade se iniciaram. Ele relata que muitas de suas principais obras surgiram depois desse episódio de sua vida. 

E foi diante disso que algo me iscou com tamanha força que me impedia de virar as páginas e seguir a leitura. Eu fiquei parada diante dos dois livros matutando: Com quase 70 anos de vida e o cara diz que foi aí o período de maior produtividade. Com quase 70 anos de experiências, ele (re)encontra vigor e disposição para concluir algo, que segundo ele, somente após essa vivencia  de transcendência o fortaleceu de coragem e aceitação incondicional para assumir seu Ser e sua existência. Ou seja, quando ele já poderia ficar tranquilo e sossegado com toda a reputação que já tinha construído em todos esses anos de vida, ele se aceita e aceita o seu destino de continuar o que tiver de ser sem se preocupar com julgamentos e valorações. 
É ou não é o Cara??

Ele descreve que foi nesse momento que ele se colocou a produzir e a escrever o que sempre o perturbou sem melindres e  resistências, entendendo que " a existência das ideias é mais importante do que seu julgamento subjetivo". Contudo, como homem sensato e que sempre buscou a integração e a totalidade da psique, adverte que os julgamentos não devem ser reprimidos ou rechaçados, mas sim que devem perder seu caráter constrangedor e castrador das ideias originais. 

Por que eu fiquei tão fortemente mexida com essa passagem?    

Porque o que Jung descobriu com 70 anos eu vivo na minha terceira década. 
Eu tenho vivido exatamente esse imperativo...

  • Se deixe guiar por sua intuição
  • Se transforme para deixar agir o livre fluxo das ideias e do destino
  • Aceite e acolha incondicionalmente seu Ser e sua existência
  • Coloque a margem o peso do julgamentos, especialmente os meus próprios.
  • Aceite seu destino.  



Pode parecer prepotência ou soberba... Como assim o "cara"  leva 70 anos para vivenciar tal profundidade e a mocinha chega aí e diz que está a experimentar tal vivência? 

Como bem descrito acima, coloco o julgamento a margem e me concentro no insight puro e cru. 
Ter me deparado com essa passagem, daquele a quem autorizo me ensinar, fez despertar em mim a responsabilidade do conhecimento que se delineia e amplia minha consciência.  
Me senti "obrigada" e designada colher, acolher e abraçar tal momento que vivencio com honra e destreza. Isto é, se haviam dúvidas, medos, receios e insegurança, é hora de se prontificar e ACEITAR. É ser digna e leal com aquele que aceitou seu destino em deixar um legado aos seus descendentes. 

Não se trata de seguir a cartilha do mestre e sim de aprender com os acertos, permitindo assim acelerar o processo que já está em curso. Pois,daqui em diante que eu possa cometer erros novos e com isso trajetórias novas. 
Seria um desrespeito levar 70 anos  para simplesmente testemunhar que Jung estava certo. Que aos meus 70 anos eu possa ter coisas inéditas para contar o que aprendi com a vida, a exemplo daquele que por hora me inspira.  

E desta forma eu encerro com suas palavras:

Mas quando seguimos o caminho da individuação, quando vivemos nossa vida, é preciso aceitar o erro, sem o qual a vida não será completa: nada nos garante - em nenhum instante - que não possamos cair em erro ou em um perigo mortal. Pensamos talvez que haja um caminho seguro; ora, esse seria o caminho dos mortos. Então nada mais acontece e em caso algum ocorre o que é exato. Quem segue o caminho seguro está como que morto. 

Fontes: DUNNE, Claire. Carl Jung - Curador ferido de Almas. São Paulo: Alaúde Editora, 2012.
             JUNG, C.G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.