sábado, 22 de setembro de 2018

ELE NÃO é bem mais do que uma questão partidária. É meu compromisso e responsabilidade comigo, com os meus, com NÓS.

Desde a minha última postagem, passaram-se oito meses. Confesso que a sensação que tenho é que neste tempo vivi anos. Tamanho foi a intensidade e a profundidade do que vivi deste então.
Minha ultima postagem foi especial. Ela teve um grito de liberdade, de consciência e revolução. Chego até pensar que está na hora de mudar o nome do blog para "Diário de uma vida em REvolução" 
O que registrei aqui há oito meses atrás foi um símbolo de toda uma trajetória de buscas incansáveis, de dores intermináveis e de amores incuráveis... Mas, acima de tudo, símbolo de uma trajetória que finalmente havia encontrado seu real percurso. Depois de tanto perder-me e esconder-me, ouvi, acolhi e entendi o que haviam feito de mim.Ou melhor, o que eu não podia impedir por não ter sido desperta para tal ação. E então, finalmente, a partir de uma  dolorosa tomada de consciência, tive forças para decidir que o medo não mais me assustaria e que não mais deixaria que amarras e mordaças me fossem impostas. 
Escrever e escrever-me foi mais do que ouvir a Alma, pois, ouvir a Alma é conditio sine qua non para colocar-se em liberdade, mas, sim uma atitude de responsabilidade e compromisso para com o mundo.
Afinal, sabem os loucos que o gosto e a necessidade pela escrita é o gosto e a necessidade do compartilhar, do vínculo, do encontro e da transformação.
Aqui está o link para acesso de meu marco, caso tenha curiosidade - Histórias que a Alma conta: um dia a gente ouve.

E é sendo calcada nesta responsabilidade e compromisso que não me autorizo a ser silêncio diante do atual cenário de nossos país. Omitir-me e assistir passivamente tal momento sem minha manifestação, mesmo que insignificante num blog qualquer, seria assinar minha demissão do mundo. 
E o mundo? Ele é onde minha alma se faz e habita. Sem ele eu estou encarcerada em minha mesquinhez. E dele, não posso e nem quero me omitir. 




Há dias que ideias invadem meu juízo solicitando serem transcritas...
Há dias que revolto-me com muitas pessoas com uma vontade louca de rasgar a etiqueta e escancarar minhas palavras nada requintadas de decepção e de tristeza para com as mesmas.
Já faz algum tempo que me preparo para quebrar o silêncio de oito meses sem postagens, entendendo que o momento de vir até aqui deveria ser mais do que uma atitude de revolta. Entendendo que esta postagem deveria ser o que de fato sempre fiz neste blog, uma confissão. 
E por isso, que em todos esses dias tenho peneirado, separado e diferenciado meus afetos e opiniões, buscando compreender o cerne que me mobiliza. 

E foi então que pude tecer a compreensão que minha revolta está nesta constatação; 


"Agora que vejo límpido e transparente, depois de anos de vendas nos olhos, vocês querem me cegar?Agora que sou dona de meu corpo, do meu querer, das minhas vontades e do meu agir vocês querem me condenar ao retrocesso?Agora que meus pulsos e pés foram libertados dos grilhões do medo, vocês querem me impor o cárcere? Uma pássaro que vive em gaiola e nunca voou, pode realmente achar que o mundo na vastidão do céu pode ser perigoso e danoso. E sim, têm seus perigos e riscos, mas quando se voa sozinha. Quando se voa em companhias, a viagem é uma jornada de transformação e de conhecimento de novos horizontes.Um pássaro que viveu em gaiola e voou - experimentando a liberdade - não consegue se satisfazer com a segurança opressora que não compensa e não realiza o prazer dos perigos, dos erros e dos acertos, de uma vida livre."

E foi então que entendi minha revolta com aqueles que acreditam que acabar com a violência e a bandidagem de um país seja pela imposição da moral, dos bons e velhos costumes, da execução do dente por dente, olho por olho, para então retornar ao paraíso perdido. Que a propósito quero saber; quando esse fantástico paraíso existiu?

A minha revolta é poder estar livre (entendendo que estar livre é estar consciente dos condicionantes que me afetam diretamente), tendo consciência de todo o tempo que estive presa. Detalhe, presa, porque algoses  sem rostos sempre fizeram questão de omitir que tais condicionantes não eram condições e sim determinações. 
Ora, liberdade não é fazer tudo o que pensa e o que quer. Liberdade não é ser livre e independente de tudo e de todos. Liberdade é poder criar opções, perspectivas e entendimentos por saber exatamente das coisas e pessoas que estão atreladas e dependentes de você. Liberdade é poder ter escolha mesmo diante dos inúmeros condicionamentos, e claro, sendo responsável por tais escolhas. 
Minha revolta está em ver e acompanhar uma massa de veneno tóxico de efeito entorpecente e opressor, que busca substituir "condições" por "determinações", sendo ovacionada como a salvação e a retomada do paraíso.

Esses que aplaudem e esperam o dia da fantástica redenção afirmam que não aguentam mais a violência, a bandidagem, a corrupção e a pouca vergonha...
Pois bem, deixa eu contar algo sobre mim, sobre os meus, sobre nós;

A violência que me acometeu durante anos não chegou através de pessoas armadas e encapuzadas, e sim de forma velada e sem rosto por meio de imposições de uma sociedade neurótica que me dizia o que era certo e errado. 
A insegurança que vivi não esteve apenas nas ruas, ônibus e espaços públicos... Sempre esteve presente, até mesmo em casa, na igreja e na escola, nos olhares de recriminação e condenação de minhas atitudes e falas. Detalhe, essa insegurança teve inicio na infância.  
Minha insegurança também esteve presente nos olhares insanos e devoradores de homens que diziam que eu era a tentação, o fruto do pecado e a perdição. Me fazendo acreditar que eu era a  culpada por provocar a insanidade deles.
O medo que durante anos me acompanhou não estava associada apenas ao ladrão e ao bandido que poderia me assaltar. Meu medo estava em ser o que eu queria ser, em dizer o o que eu queria dizer e em quebrar regras...Porque meu medo diário era constatar que dia após dia assaltavam meus sonhos, meus desejos e minhas vontades. 
A corrupção que eu sofri, foi quando medicalizaram meu sofrimento, levando meu dinheiro em remédios e diagnóticos, me fazendo acreditar que eu possuía transtornos por ser inconformada e apresentar vontades proibidas.(Ex. de vontade proibida: fazer o que gosta quando isto não te dá dinheiro e status) Ah, também fui corrompida quando me disseram que deveria seguir a fé sem questionar e que a não submissão à vontade de um deus professado por homens era pecado.  
Sem contar as violências que sofri no mundo corporativo sendo obrigada a participar de "poucas vergonhas" naturalizadas. Ex: Mulher bonita no depto. de vendas é retorno certo. Faça sua melhor performace Suellen. Seja simpática, cordial, atrativa e saiba sair pela tangente sem ofender o cliente, viu!?"

Essa mesma violência que me condenou durante muito tempo a solidão e ao autoflagelo de que eu era louca - por não me acostumar com isso - foi também a que condenou pessoas da minha família aos antigos manicômio e ao suicídio. 
Eu vi essa violência trancafiar mulheres da minha família às celas da amargura, da solidão e da depressão. Eu vi essa violência arrombar fisicamente mulheres de minha família, deixando marcas impossíveis de serem apagadas. Eu vi essa violência afastar pessoas queridas por condenações e julgamentos com os dogmas da verdade tradicional e institucional. 

Essa mesma violência que esteve presente em meu cotidiano e nos cotidianos dos meus mais próximos, e que ainda insiste fazer novas vitimas - como o meu filho - torturou, condenou e marcou de sangue a história da humanidade.

E é essa violência, que se eleita, será implantada com consentimento.




Claro que temos problemas sérios de ordem social, econômica, cultural e educacional para resolver. Não sou Pollyana. Contudo, tais problemas são desdobramentos de uma inconsciência que insiste em permanecer exatamente por muitos que ainda são resistentes quanto a abertura das gaiolas. Foram tão doutrinados a uma educação do medo, da vergonha e da culpa, que não satisfeitos em ficar em suas gaiolas, querem eleger a figura do "carcereiro" como presidente para tolher aqueles que finalmente podem voar.

Uma nação que só se preocupa com aquilo que pode ser contabilizado, vendido, arrecadado e acumulado, é uma país que o ladrão pode assaltar, a ferrugem e a traça corroer. Olhe e veja o que somos, senão o local marcado no mapa dos piratas! 
Uma nação deveria juntar riquezas no céu. No céu que nós mesmo podemos criar. Ou seja, na grandiosidade de nossa capacidade de amar o diferente, de estabelecer relações horizontais, de viver a indulgência e educar o outro por nossas próprias atitudes de amor. Afinal, não é possível falar de amor vivendo e autorizando atitudes de violência e de obediência.
"Não é possível servir a dois senhores"

Agora me diz... Quais são as dores que você carrega que te fazem eleger a imagem da opressão e do ódio como soberano? Quem cortou suas asas de águia e impediu seus voos te fazendo acreditar que você só era uma galinha? (Recomendação do livro "a águia e a galinha: Uma metáfora da condição humana" - Leonardo Boff)
Voar sozinho é difícil mesmo, mas, de novo reitero, voar em companhia é uma aventura, é conhecimento. Você não precisa ter medo da insegurança do infinito, quando se está em companhia. Você não precisa escolher a prisão por medo da liberdade.




Se queremos de fato mudanças e transformações. Se queremos liberdade de ir e vir, de andar tranquilamente pelas ruas e de ter nossos direitos assegurados, devemos começar por abrir mão de nossa mesquinhe individual. Um mundo não é um "ap" onde eu vivo sozinho e só minhas vontades devem ser leis.

E por isso, me apropriando dos inúmeros aprendizados que tive com o velhinho Jung, afirmo: Somente quando eu entendo, vivo e me comprometo com a comunidade humana, e não apenas com meus valores, conceitos e dogmas, é que estou de fato contribuindo para a evolução da humanidade. Caso contrário, estou sendo soldado da estagnação.



Quando eu me levanto para dizer "ELE NÃO", passa longe de uma questão partidária ou de uma corrente feminista, estou a fazer por mim e por minhas marcas, por todos o que vi sofrerem (homens e mulheres), por todos que ainda sofrem e para honrar os que muitos já lutaram e morreram lutando. E claro, para manifestar e impedir um futuro de sombras e celas.
Não quero de meu país uma potência econômica, onde fico passiva da iniciativa.
Quero de meu país uma potência humana, pois aqui eu sou ferramenta de trabalho e de construção!!


"A individuação é o 'tornar-se um' consigo mesmo, e ao mesmo tempo com a comunidade toda, em que também nos incluímos. Estando assim assegurada a existência individual de cada um, logicamente também se garante que o conjunto organizado dos indivíduos do Estado, ainda que este se revista de uma autoridade maior, não mais constitua uma massa anônima, mas uma comunidade consciente. Contudo, há uma condição prévia indispensável para se chegar a isso: é a opção consciente e livre e a decisão individual. Uma verdadeira comunidade não pode existir sem essa liberdade e independência de cada um, e - vamos e venhamos - sem uma tal comunidade, o próprio individuo que se fundamenta em si mesmo e é independente, não pode progredir por muito tempo. Além disso a personalidade independente é a que melhor serve o bem comum" (Jung, 2013,p.227)

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